O sucessor do Facebook
As coisas não estão tranquilas no Vale do Silício. Na sexta-feira, a
não ser que algo de estranho aconteça, o Facebook vai a Nova York abrir
parte de seu capital na Bolsa de Valores. IPO. Boatos não faltam. Uns
dizem que não há interessados o suficiente nos papéis e a turma da
empresa cogita adiar. Outros sugerem que o governo tem dúvidas que podem
também bloquear o movimento de abertura. Há também o cheiro de euforia.
O maior IPO da história, já que não custa bater o recorde que noutros
tempos pertenceu a Netscape e Google. E não faltam técnicos de fundos de
investimento reclamando que o CEO Mark Zuckerberg, com seu moleton de
capuz, não inspira confiança. Pode ser.
Do ponto de vista da
empresa que vai à Bolsa, planejar um IPO leva em conta muitos ângulos. O
primeiro, imediato, é fazer tanto dinheiro quanto possível. O Facebook
porá a venda pouco mais de 10% da empresa. Outros 9% chegarão ao mercado
pelas mãos de sócios, entre eles o próprio Zuckerberg, que deverá uma
bolada em impostos e precisará de dinheiro para pagar. Estes 10% da
empresa, se venderem no primeiro momento a uma média de US$ 35 cada
ação, devem render US$ 6,3 bilhões. É dinheiro que serve de caixa para
investimentos futuros.
A segunda preocupação, num IPO, é fazer
bonito e, assim, inspirar confiança. O preço inicial cobrado por ação é
fundamental. Se o Facebook pede US$ 35, é bom que rapidamente o valor de
revenda no mercado galgue novos e mais elevados patamares. Este é um
dinheiro que pode não terminar nos cofres da empresa, mas indica
sucesso. Indiretamente, quer dizer também dinheiro. Causa uma boa
impressão no mercado, que repercute em dinheiro publicitário.
Ninguém
sabe que valor, na sexta-feira, vai ser cobrado pela oferta inicial de
ações. Os investidores se comprometem parcialmente, um leilão é
ensaiado, e no fim das contas toda essa série de boatos é só resultado
desta negociação.
Um IPO assim tão grande tem também inúmeras
consequências. Se estes imensos valores forem confirmados, alguns de
seus mais importantes funcionários se tornarão milionários. Dependendo
de quem faz a conta, algo entre poucas centenas e até mil pessoas farão
mais de um milhão de dólares. No alto comando, os riscos são poucos. O
problema é no segundo nível, onde ficam os engenheiros que põem de fato a
mão na massa do Facebook. Alguns destes terão uma pequena fortuna e
convencê-los a ficar na empresa a médio prazo pode ser difícil. Todo
engenheiro no Vale do Silício, afinal, tem uma ideia que quer um dia por
em prática.
Quando fez o seu IPO, a Google perdeu uma boa leva de
talentos. É difícil avaliar qual o impacto real. A empresa cresceu
muito desde então. Mas também ficou mais burocrática e lenta. Esta
burocracia foi excelente para o Facebook. Conforme a Google parecia cada
vez menos desafiadora, mais gente talentosa buscava a próxima grande
coisa. Meio comando do Facebook é ex-Google.
Outra consequência é
que uma injeção violenta de capital voltará para o Vale. Os investidores
iniciais que puseram alguns milhões no Facebook agora venderão ao menos
parte de suas ações. Isto quer dizer que a turma que vive de farejar
que nova tecnologia revolucionará o mundo terá uma quantidade atordoante
de dinheiro no bolso. Parte é lucro. Mas outro bom pedaço será
revertido para novos investimentos. Um número ainda maior de novas
empresas iniciantes, as startups, recerberá investimentos fortes ao
longo dos próximos meses.
É assim que funciona o ciclo do Vale do
Silício. Mark Zuckerberg será oficialmente bilionário aos 27 anos. Marc
Andreessen, fundador da Netscape, virou milionário em 1995 aos 26 anos.
Criou o primeiro software para navegar na web graficamente, foi um dos
primeiros a investir na nuvem, há dinheiro seu no Twitter e no próprio
Facebook. Tem faro. Sexta-feira, bota mais algumas centenas de milhões
de dólares no bolso. Há uns anos, contou recentemente à revista “Wired”,
estava conversando animadamente com Zuckerberg quando o fundador do
Facebook lhe perguntou sincero: “O que mesmo fazia o Netscape?” Zuck era
pré-adolescente, não tinha ideia.
O IPO do Facebook põe no trono a
geração da Web 2.0. Quem será o sucessor na geração da internet móvel? O
ciclo para sabermos ainda demora uns cinco anos para se completar.